Cinema & Fetiche


Quantas vezes você se viu diante de uma televisão, comendo pipoca, assistindo seu DVD favorito e deu de cara com alguma coisa que te fez engolir pedaços de milho a seco? Quando vi Império dos Sentidos (Ai no Corrida, de Nagisa Oshima – 1976) jamais imaginei que naquela época a telona pudesse exibir tantas cenas tórridas. O filme conta a história de uma ex-prostituta que pratica atos de amor e entrega total com o dono da propriedade onde ela é contratada a trabalhar. Mas a cena onde várias prostitutas dominam uma jovem e introduzem nela um consolo em forma de pássaro é de tirar o fôlego e engolir de uma só vez todos os milhos que havia, (sem nenhuma analogia ao ovo cozido sorvido pelo protagonista ao ser devidamente “botado” por sua companheira). Foi meu primeiro filme “permitido” aos dezoito anos de idade, até porque vale lembrar que naquela época a cana era dura mesmo e menor de idade ficava longe de filmes impróprios.

No ano de 1979, presenciei Sylvia Kristel interpretar Emmanuelle com muito atraso (o filme foi lançado em 1974) e me deixei levar pelo mundo fantástico das fantasias sexuais assistindo as cenas que escandalizaram a sociedade, contendo sadomasoquismo, estupro (claro que em se tratando de uma obra de ficção é um estupro consentido) e masturbação. Essa obra é o segundo filme da personagem criada por Emmanuelle Arkan no livro The Joys of a Woman. Depois deste vieram outros como “Emmanuelle in África”, também exibido nos cinemas brasileiros, tendo a série de filmes alcançada à marca de cinqüenta e oito outros sem o mesmo sucesso. Sylvia visitou o Brasil no ano da liberação do filme e participou da novela Espelho Mágico da Rede Globo.

Nessa mesma época, outro grande sucesso com trilha fetichista abocanhou grandes bilheterias tornando-se sucesso na época e até hoje é muito badalado pela cena Cult. Trata-se de L’Historie D’O da obra de Pauline Réage com direção de Just Jaekin que um ano antes havia lançado o já citado Emmanuelle. O filme mostra o drama de uma fotógrafa que é introduzida ao sadomasoquismo por seu namorado que a envia à Mansão de Roissy onde ela tem um aprendizado de submissa e, na seqüência manda que ela se submeta aos desejos sexuais de seu melhor amigo. Com excelente atuação de Corinne Clery no papel de O, o filme aproxima a realidade do fetiche no enredo criado para a película, levando o espectador a cenas delirantes do início ao fim.

Outro clássico cinematográfico que marcou a trajetória do BDSM no cinema nos anos setenta foi Expensive Tastes (1978), filme de Joanna Willians que passou despercebido por essas bandas e conta a história de um grupo de jovens que resolve raptar mulheres e ter com elas (totalmente amarradas) uma série de cenas de sexo forçado com requintes sadomasoquistas, porém, há que ressaltar que as cenas que induzem estupro nada têm de pavorosas e em todas elas, invariavelmente, as mulheres assaltadas acabam por entregar-se aos caprichos de seus raptores.

Com o fim da década de setenta, os anos seguintes não acrescentaram nada de novo que pudesse criar um link entre o BDSM e o cinema, o que veio ocorrer no começo dos anos noventa quando a cantora Madonna aproveitando-se do sucesso flertou com o fetiche no filme Corpo em Evidência e em clipes do seu álbum Erótica em Outubro de 1992. Com letras que passaram entre erotismo e defesas das minorias, Madonna exibiu cenas de sadomasoquismo e lesbianismo no videoclipe da musica Erótica, tema do álbum que transformou a escandalizada carreira da cantora em bandeira de grupos homossexuais e afins.

Década de noventa nos trouxe ainda Basic Instinct (1992) exibido no Brasil com o título de Instinto Selvagem onde a bela Sharon Stone utiliza técnicas de dominação para seduzir suas vitimas. O filme de Paul Verhoeven alcançou êxito mundial de bilheteria e público e novamente utilizou-se do fetiche para buscar as cenas ardentes que estremeceu platéias.

Ultimamente, temos notícia que Britney Spears prepara uma investida no mundo fetichista em sua mais nova aparição no cinema. O título do filme seria “The Knoxville Carjacking Party”, que em tradução literal é algo como “Festa do roubo de carro em Knoxville”. A história, baseada em fatos reais, trata de um casal de estudantes que teve seu carro roubado na estrada e depois foi seqüestrado, estuprado e morto na cidade de Knoxville, no Tenesse. „The Knoxville Carjacking Party’ tem muitas cenas de sadomasoquismo e todos sabem que Britney poderia fazer sem problemas cenas de sexo comuns, mas estas são cenas fortes. “Ela teria que se preparar para agüentar algumas das cenas”, disse uma fonte ligada ao filme.

Concluindo, podemos notar que nos tempos modernos o cinema sempre aproximou a realidade da ficção, ao mesmo tempo em que todas as vezes que mesclou cenas e histórias consideradas “secretas” em seus argumentos obteve pleno e absoluto sucesso, provando que mesmo os que se colocam fora da cadeia fetichista, têm imensa curiosidade de saber o que se passa dentro desse mundo particular, e também, comprovou que o sexo apimentado quando tratado com elegância e um mínimo de conhecimento pode provocar o frisson em que está na turma do gargarejo.

Fonte: Bound Brasil
http://www.bound-brazil.com

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